Décadas atrás, uma grande dificuldade para os pais de crianças com autismo era que não existiam terapias para auxiliá-los a compreender as peculiaridades de seus filhos e muito menos profissionais que contribuíssem para o desenvolvimento deles. Felizmente, na atualidade, a análise do comportamento aplicada (ABA) para autismo é muito mais conhecida e existem vários tipos de profissionais e de atividades para trabalhar com pessoas autistas, especialmente as crianças.
Porém, os pais agora se deparam com uma nova dificuldade: como há uma grande quantidade de tratamentos sendo propostos, muitas vezes é confuso saber quais deles são eficazes e, principalmente, quais deles podem ajudar seus filhos.
Este artigo tem como objetivo explicar o básico sobre um desses métodos, conhecido como método ABA.
Assim, o leitor pode analisar se acha interessante se aprofundar.
O que é Análise do Comportamento Aplicada (ABA)?
A terapia mais aceita no momento é a que utiliza os conhecimentos da Análise do Comportamento Aplicada (ou “Applied Behavior Analysis”), mais conhecida como ABA, que se baseia em evidências científicas e inúmeros estudos sobre o comportamento humano.
Pode auxiliar diversas pessoas e mostrou muito sucesso quando aplicada para crianças com espectro autista. Seu principal objetivo é ajudá-las a desenvolver habilidades necessárias para se tornarem mais independentes, se comunicarem mais facilmente e terem uma melhor qualidade de vida.
A ABA, em si, não é uma técnica ou um método específico, mas sim um “termo guarda-chuva”, que engloba várias abordagens diferentes.
O que todas elas têm em comum é a utilização de um conceito bem simples: comportamentos que são reforçados irão aumentar, enquanto comportamentos que não são reforçados irão reduzir ou mesmo desaparecer.
Como funciona o método ABA?
Quando as terapias com base na análise do comportamento aplicada (ABA) começaram a ser desenvolvidas, os profissionais apenas realizavam exercícios específicos para ensinar cada habilidade.
Eles conduziam as crianças a fazerem cada atividade sempre da mesma maneira, por várias vezes, dando-lhe uma recompensa quando fazia da forma desejada.
O problema é que, além de ser tedioso e repetitivo, não levava em consideração os hábitos e a personalidade de cada indivíduo e por isso as crianças não gostavam muito da terapia.
As abordagens mais recentes e eficientes da análise do comportamento aplicada envolvem o chamado “ensino incidental”, que ajuda a criança a aprender no contexto de brincadeiras e outras atividades que fazem parte do seu dia a dia.
Ademais, a terapia é muito mais lúdica e interessante e a criança tem mais prazer em fazer as atividades e vontade de continuar e aprender coisas novas.
“A ideia é aproveitar algo que a criança está fazendo de qualquer jeito. Se você está brincando, é mais provável que eles continuem aprendendo isso e se lembrem e queiram fazer de novo.” – diz a Dra. Catherine Lord, PhD e pesquisadora em Neurociência e Comportamento Humano. “(Por exemplo) se fôssemos ao banheiro e a criança apertasse um dispensador de toalhas e ficasse empolgada quando a toalha saísse, então eu poderia incentivá-lo a pressionar novamente e pegar uma toalha mais uma vez, fazendo com que, no fim, ela aprenda a pegar a toalha espontaneamente quando for ao banheiro. Esse ensino é incidental no sentido de que eu não planejei, originalmente, entrar no banheiro e pedir que ele fizesse isso várias vezes.”
Portanto, os profissionais que utilizam a ABA agora possuem uma variedade de técnicas para usarem em seu trabalho com crianças. A seguir, explicamos as principais estratégias de ensino que se enquadram no “guarda-chuva” da ABA.
Treinamento Experimental Discreto (TDT)
O Treinamento Experimental Discreto (Discrete Trial Training) foi a abordagem original da ABA, projetada para crianças pequenas no espectro, sendo a forma mais estruturada da análise do comportamento aplicada.
É sempre feito individualmente e a criança faz as atividades sentada, com os materiais à sua frente. O terapeuta dá uma tarefa que utiliza o material – por exemplo, escolher o triângulo, ou um objeto vermelho.
Quando ela faz isso de forma correta, recebe uma recompensa, não necessariamente relacionada à atividade (como um M&M, um adesivo, acesso a um brinquedo favorito, etc).
Isso é repetido vária vezes – para receber a recompensa, a criança deve fazer o que foi solicitado rapidamente, e caso não faça, o terapeuta repete a mesma solicitação novamente.
Assim, por ser uma técnica muito repetitiva e definida especificamente pelo profissional, não utiliza-se tanto, tendo um foco mais voltado para pesquisas e estudos na área.
Tratamento de Resposta Pivotal (PRT)
O Tratamento de Resposta Pivotal (Pivotal Response Treatment) é mais orientado para a criança, em vez de estruturada pelo terapeuta.
Ao invés de se concentrar em comportamentos individuais, o PRT busca aprimorar habilidades pivô de desenvolvimento.
Ademais, enfatiza formas naturais de reforço de comportamentos, em vez de dar recompensas não relacionadas à atividade (como o M&M usado pela abordagem anterior).
O conceito é que, se você construir esses módulos de aprendizado em um ambiente mais natural, a criança terá maior probabilidade de usar os conhecimentos também em outras áreas.
Além disso, procura ensinar comportamentos “de base”, que tem possibilidade de levar a novos comportamentos relacionados (como uma reação em cadeia).
O PRT foca nas iniciativas da criança – o terapeuta tem em mente as habilidades que ele quer que ela aprenda, mas espera que a criança se envolva com algo, para então iniciar uma atividade relacionada àquilo.
Modelo Denver de Intervenção Precoce (ESDM)
O Modelo Denver de Intervenção Precoce (Early Start Denver Model) é uma abordagem mais recente da análise do comportamento aplicada.
E, de certa forma, combina características da PRT e da TDT.
Pode ser feita em sessões individuais ou em grupo. Envolve a criação de atividades baseadas em brincadeiras, como na PRT, mas o terapeuta também incorpora ABA mais tradicional, se necessário.
Além disso, a ESDM busca incorporar vários objetivos dentro de uma mesma atividade. Veja o exemplo de colocar o triângulo no quebra-cabeça.
Usando exclusivamente a TDT, o terapeuta simplesmente ensinaria esse triângulo com um quebra-cabeças e, portanto, trabalharia apenas com o conceito de formas.
Se usasse exclusivamente o PRT, o objetivo e conceito seriam os mesmos, mas o profissional poderia aplicá-los em atividades diferentes, e não apenas naquele quebra-cabeças.
Agora, na abordagem do ESDM, um dos objetivos ainda pode ser que a criança aprenda o triângulo.
Mas o terapeuta também pode aproveitar a atividade para trabalhar outros conceitos e habilidades.
Por exemplo, pode ensinar o conceito de cores e tamanhos diferentes, estimular o aprimoramento da coordenação motora fina (necessária para a criança encaixar a peça), exercitar a paciência da criança em terminar uma atividade e até incentivar a interação social, fazendo com que a criança peça ao terapeuta que lhe dê uma peça que ela não consegue alcançar sozinha.
Saber aplicar objetivos e conceitos diversos em uma mesma atividade pode ser bastante desafiador para o terapeuta, mas é bastante recompensadora tanto para o profissional quanto para a criança.
Críticos VS. Defensores da Análise do Comportamento Aplicada
Nas últimas décadas, a Análise do Comportamento Aplicada ou ABA gerou diversas abordagens e técnicas, projetadas para ajudar crianças com autismo.
Seja a desenvolver habilidades que não estão adquirindo naturalmente e reduzir comportamentos prejudiciais a elas, como aqueles que podem levá-las a machucarem a si mesmas.
Mas, à medida que o ABA se expandiu e se tornou mais comum, também passou a receber sua dose de críticas. Porém, os terapeutas experientes na área conseguem rebatê-las, apresentando bons argumentos.
Crítica Comum: Repetição
Uma crítica comum é de que a terapia ABA envolve muita repetição.
Por isso, é difícil para as crianças e elas não utilizam as habilidades que aprendem para outras situações.
Argumento dos Defensores: As Técnicas Novas Superaram Isso
Entendem que as pessoas que alegam isso parecem ter um conhecimento apenas superficial do assunto.
Isso porque esses argumentos se aplicariam mais especificamente às técnicas iniciais da abordagem TDT (Treinamento Experimental Discreto) que, em sua maioria, não são mais comumente utilizadas.
As abordagens mais modernas da ABA – o Tratamento de Resposta Pivotal (PRT) e o Modelo Denver de Intervenção Precoce (ESDM) – se baseiam mais em brincadeiras e sempre levam em consideração as características e necessidades individuais de cada criança.
Assim, nesse contexto, elas são capazes sim de extrapolar as habilidades aprendidas nas sessões de terapia e levá-las ao mundo externo.
Críticos: tentam “acabar com o autismo”
Outros críticos alegam que as abordagens terapêuticas da ABA tentam “acabar com o autismo” e fazer com que as pessoas autistas “pareçam neurotípicas”.
Defensores: permitir a independência
Os defensores da ABA argumentam que ela não visa eliminar a neurodiversidade das crianças autistas, mas sim permitir sua independência.
Realmente, décadas atrás, a ABA originalmente estava focada no objetivo de que as crianças se encaixassem em um “ideal típico”.
Mas, atualmente, tem um objetivo totalmente diferente.
Conclusão sobre a Análise do Comportamento Aplicada (ABA)
O que um bom terapeuta faz é analisar as características individuais de cada criança, descobrir seus pontos fortes e entender seus interesses.
E, juntamente com sua família, ajudá-la a desenvolver habilidades que lhes permitam participar da sociedade e lhes dê uma maior gama de escolhas.
A Dra. Catherine Lord resume bem os sentimentos dos terapeutas que se dedicam a ajudar crianças através do ABA: “não estamos tentando mudar a pessoa, não estamos tentando mudar a forma como ela pensa, não estamos tentando mudar como ela se sente“.
“Não queremos simplesmente uma pessoa ‘mais bem-comportada’ – queremos uma pessoa que possa fazer o máximo possível e obter o máximo de alegria possível do mundo.”
Por fim, não deixe de conferir nosso artigo o Curso Aba Terapia Autismo e também nosso artigo sobre os melhores livros para crianças autistas.